quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Amor, questão de sobrevivência.


Nascemos em estado de total desamparo. Mais do que necessidades físicas, o bebê precisa fundar-se ser humano. 

E então ele balbucia qualquer coisa, faz um grunhido qualquer, e o cuidador (a mãe, geralmente) sentencia: ele quer isso, ou aquilo, ou aquilo outro. O bebê tem uma contração muscular no rosto, a mãe acha que ele está sorrindo. A mãe acredita que sabe o que o seu bebê quer, ou sente, porque está literalmente enlouquecida de amor por ele.

O processo pressupõe falhas, portanto "o que escapa entre a necessidade e a demanda é o desejo que anima o sujeito do inconsciente.Esse desejo provém da falha, da impossibilidade de que o outro o entenda totalmente ou mesmo que atenda totalmente sua demanda de amor inesgotável e, portanto, impossível de ser atendida", como nos diz Maria Anita Ribeiro.

Esse processo de investimento do cuidador vai auxiliar o recém-nascido a construir, paulatinamente, a sua independência no sentido de tornar-se indivíduo capaz de estabelecer relações e vínculos. O amor o impulsiona. 

Freud disse que ninguém é tão forte quanto alguém que tem certeza que é amado. Em outras palavras, quando alguém encontra "lá fora" um reflexo do amor que sente por si mesmo, quando o silêncio de um cuidador sussurra para a criança: sim, você vale a pena, a criança se fortalece. Nesse caso, o narcisismo da criança cresce como semente saudável, vira árvore frondosa, já pode até emprestar sua sombra às outras árvores. 

A humanidade do cuidador auxiliará o processo de humanização do bebê. E o que é ser humano? É estar inscrito na linguagem, tendo que lidar sempre com o desejo e com a falta. 

Ser humano é muito mais do que ter exigências biológicas satisfeitas, é estar sempre sujeito à própria subjetividade. Nesse sentido, pode-se dizer que na nossa espécie o amor é uma questão de sobrevivência. O bebê precisa de alguém que o cuide, que o deseje, que o espelhe. A isso chamo amor.