sábado, 15 de outubro de 2016

O Lar das Crianças Peculiares


É possível abrir uma fenda no tempo, como sugere o filme “O Lar das Crianças Peculiares”, do diretor americano Tim Burton? No filme, para impedir que mísseis alemães atinjam a casa onde vivem, a senhorita Peregrine diariamente atrasa o tempo, mantendo a si e às crianças presas num mesmo dia. Para não sofrer os efeitos devastadores da bomba, ela e as suas crianças se condenam à prisão de um tempo que não passa.


A Srta. Peregrine quer proteger a sua casa, mas paga um preço alto por isso. O desejo de congelar o tempo num dia perfeito é bonito, mas não condiz com a vida.


A história de uma pessoa não é uma linha reta, mas é traçada por pontos de condensação que pulsam, que forçam a presença do passado no presente. O tempo do inconsciente se organiza em torno dos mísseis e vulcões que porventura nos atingiram. É preciso garantir a plasticidade dessa estrutura, que se modifica conforme é atravessada por objetos externos ou mediante o trabalho de uma análise, por exemplo.

A incapacidade de elaborar um luto paralisa. Seria esse o correspondente psíquico da fenda temporal do filme de Tim Burton?

O trabalho do luto é trabalho psíquico, o que significa que, diante da ausência do objeto, o aparelho psíquico deve reinvestir a libido num novo objeto, um objeto vivo, disponível. Se não pode realizar esse trabalho, o sujeito está condenado à prisão de um objeto que já não está e não pode mover-se.

É preciso chorar pelas casas perdidas e construir outras, sentir a dor da devastação, saber passar, saber atravessar os dias bons, os perfeitos, os imperfeitos e os bombásticos.




Um comentário:

  1. Acabei de ver o filme...
    Acho que o menino tem algum transtorno mental, aonde ele vai e volta do real ao imaginário.
    Se sente perseguido até mesmo pela psicóloga.
    E no fim se entrega totalmente à ilusão da fantasia. Psicótico?
    Louco? Ele ou eu?

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