quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Chopp, de Carlos Pena Filho



A condição humana é aventura e riqueza.

Há, em nós, o medo inconsciente de um gozo tão forte que nos faria desintegrar e que nos amarra, com laços fortes, no terreno da neurose. É por sermos neuróticos que capitulamos, tantas vezes, frente ao desejo. Nem sempre podemos suportar conseguir o que queremos.

O poema abaixo, de Carlos Pena Filho, ilustra muito bem o nosso paradoxo, esse tesouro de ausências, coleção de perdas que acumulamos, seres castrados e desejantes. Viver exige que se encontre o equilíbrio na corda bamba dos desejos.



CHOPP
Carlos Pena Filho

Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim,
nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.

Ah, mas se a gente pudesse
fazer o que tem vontade:
espiar o banho de uma,
a outra amar pela metade
e daquela que é mais linda
quebrar a rija vaidade.

Mas como a gente não pode
fazer o que tem vontade,
o jeito é mudar a vida
num diabólico festim.

Por isso no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.



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